sexta-feira, 18 de julho de 2008

andando na rua, voltando da escola

-Pra eu crescer, eu tenho que ficar igual a você?
-Como assim?
-Fazer essas coisas todas.
-Que coisas?
-Falar alto, beber cerveja, ter amigos porcos que nem os seus...
-Não, claro que não, mas é legal assim.
-E se eu crescer de outra forma?
-Que outra forma?
-Sei lá, diferente.
-Eu só conheço assim. Não cresci de outra forma.
-Entendi, mas você acha que seria mais difícil?
-Sei lá. Você que sabe.
-Mas eu ainda não cresci.
-Não parece... mas o que você quer, na verdade, com essas perguntas todas?
-Não sei, tô tentando descobrir.
A essa altura já haviam chegado à Rua Leocádia, 70, onde moravam.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

filosofia de butiquim

Eu ando muito preocupado com essas coisas de existir. Eu não sei, se me fosse dada a opção de escolher, se eu existiria. Existir dá trabalho. Existir cansa. Existir mata e corre-se o risco de se deixar de existir. Eu não quero me matar, mas tampouco existo de uma forma que alguém possa dizer com boca cheia “Esse daí existe!”. Acho que posso dizer que existo mais ou menos. Tem horas que mais pareço um zepelim a vagar balofamente pelos ares imune a tudo: juízos, opiniões e outras coisas que determinam o limite daquilo que somos para aquilo que não somos. Mas também tem horas em que estou suscetível a tudo. Nessas horas, qualquer bater de asas de uma borboleta pode, realmente, gerar tufões no outro lado de mim, me demarcando como um Grand Canion.
Por essas e outras que, se eu tivesse ingerência no momento em que o Criador tivesse concebido a idéia de me conceber eu diria satisfeito e polidamente após um bocejo indiferente: “Não, obrigado! Essas coisas de existir não são para mim”.
Só que parece que, por algum motivo insondável, Ele pensa diferente e cá estou eu a dizer essas bobageiras. E você, aí, a lê-las. Vá entender.

terça-feira, 8 de julho de 2008

para quem precisa

Não sei porque tem épocas que a Guarda Municipal é tão intolerante com os ambulantes do Centro do Rio. Noutras, a relação por vezes, é tão indiferente que chega a ser amistosa (tô tentando lembrar aqui se já vi alguma vez um dos guardas consumindo algum produto, uma balinha que seja, de algum ambulante, mas acho que nunca vi). Não estou fazendo aqui defesa incondicional dos ambulantes. Creio que toda pessoa tem direito ao trabalho e estes, pelo menos, não estão optando por expedientes excusos para sua sobrevivência. Somente que não pode, igualmente, o resto da população ser refém desta situação. Ser conivente com o comércio informal como se tais comerciantes estivessem fazendo um favor, existindo, de forma sub-reptícia a ameaça de que, a qualquer momento, o tal comerciante pode desistir da “vida certa” e partir para a “vida errada”. Só para se deixar claro que escolhas são do cabedal moral de cada um. Além de atrapalhar o trânsito das pessoas nas calçadas, a utilização do passeio público para auferir lucros para si depende de cientificação da Prefeitura, salvo engano com pagamento de alguma taxa. Outra questão é o não pagamento de tributos a que todo brasileiro estaria submetido sob pena de inúmeras sanções, caso comerciante não-informal fosse. Não vai aqui um discuso pró-Estado, portanto necessariamente contra o cidadão. Concebo o Estado enquanto uma instituição que deve refletir os anseios da sociedade no que tange à vida em cojunto, portanto, se chegou-se ao nível de compartilhar-se socialmente valores como “o passeio público deve estar livre para o trânsito das pessoas” e “todos devem pagar tributos para que a vida em conjunto possa ser custeada” e tais valores, solidificaram-se em normas, é de bom alvitre cumprí-las. Ao antagonista: sei das mazelas que permeiam o Estado brasileiro, dos destinos equivocados que os governantes dão à excessiva carga tributária que nos é impingida e de como é relativa a noção de que valores compartilhados são necessariamente sabidos e cumpridos por cada um, mas defendo a idéia de que tais fracassos não devem ser desculpas para o non-sense, mas caminhos pedagógicos para que se acerte futuramente, com a evolução social.
Estas são meras reflexões abertas a debate. Não há que se negar que todos temos apreço por algo e desprezo por outro algo e portanto, gostaríamos muito que o objeto do nosso apreço vigorasse e que o objeto do nosso desprezo desaparecesse. Nesse tiroteio de pretensões é que deve subsistir o Direito.
Isso tudo por que teve uma gritaria aqui embaixo. Os guardas municipais vieram zunindo como um enxame de abelhas e as pessoas curiosas e ávidas, como crianças em zoológico. A quizumba durou bem uns 15 minutos. Muitos palavrões, muitas portas de loja se fechando, muita gente em volta parada olhando e eu aqui escrevendo. Sabe-se lá porquê.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Sou tricolor de coração


O povo não perde uma. Uma das maiores vantagens de não se importar muito com futebol é que as chatices dos times 'adversários' não o incomodam. Quando vem um deles todo feliz achando que vai contar uma vantagem, já é prontamente recebido por uma indiferença que broxa qualquer iniciativa, como a tão comum neste dia pós final de libertadores, de se divertir com os órgãos genésicos alheios (espero que tenham entendido o eufemismo, pretendo manter alguma elegância).
Pois bem, como todos sabem andei acompanhando um pouco mais de futebol nos últimos tempos graças a atuação do meu time genético, o Fluminense, pelo qual, surpreendentemente (para quem me conhece sabe do que estou falando), descobri nutrir uma paixão, digamos, avassaladora nesta Libertadores. Aconteceu o previsível: o defunto nem esfriou e já veio a turma dos estranhos hábitos eufemístico-sexuais querendo se prevalecer disso pra cima de mim só porque agora a coisa mudou um pouco de figura.
Achei o jogo horroroso. Volto a frisar, não sou nenhum especialista em futebol, mas acho que para chegar a essa constatação nem é preciso sê-lo. O primeiro sinal de que havia algo estranho no ar foi a demora para começar a partida, até onde sei, por que o juiz queria que os jornalistas fossem de um canto para o outro. Nem deu pra perceber se o 'vício' chegou a ser sanado, mas logo depois senti arrepio ao descobrir que o árbitro era argentino (sim, só fui descobrir isso depois). Lá pelas tantas qualquer um poderia jurar que o cara era torcedor do Boca. Daí pra frente o que vi foi um jogo equilibrado. Toma lá dá cá, ataque/contra-ataque funcionando bem, defesa do Flu falhando em alguns momentos assustadores, mas também salvando, e o mesmo ocorrendo com o LDU. Tudo muito rotineiro. Não achei que o Fluminense deu nenhum show de bola, mas o LDU também igualmente não o fez, basta ver o placar até o final da prorrogação. Teve pênalti claro que não foi marcado (salvo engano, pros dois lados), teve lances legais tidos como impedidos (já na prorrogação) e inclusive um pênalti do Flu invalidado ao final sei lá eu porquê e nem quero saber só para continuar achando um absurdo pro resto da vida. Sei que, no fim das contas, o 4x1 poderia, sim, ter saído em várias ocasiões, mas uma certa incompetência e indolência, até, por parte do Fluminense, não o permitiu e a questão teve de ser decidida na roleta russa, no cara ou coroa que é a cobrança de pênalti.
Portanto, onanistas dos membros alheios (sei, o padrão de elegância deu uma decaída depois dessa, mas vá lá) nem percam o precioso tempo de vocês e vão procurar tais satisfações outra freguesia pois faço aqui o mea culpa do meu time, mas reconheço que festa igual àquela de ontem vocês jamais terão a competência de fazer e sentir. Juro, somente ela já valeu cada centavo do meu ingresso.
Saudações tricolores.