domingo, 6 de dezembro de 2009

Educando flamenguistas

Estou torcendo para o Flamengo ser campeão. Futebolisticamente falando, jamais admitiria tal absurdo. Porém, o faço civicamente. Em um análise pragmática, temos as seguintes variáveis: muita gente, muitíssima gente bêbada (de nada adianta a lei proibindo a venda de bebidas alcoólicas, acreditem), muitissíssima gente bêbada esperando o fim de protocolares e previsíveis 90 minutos (vale a pena ser campeão nessas condições?) para comemorarem um título de um campeonato de futebol. Tudo leva a crer que, do ponto de vista da paz social, uma vitória renda um saldo mais positivo para a ordem pública. Muito embora, em se tratando de Flamengo, como se sabe, pode haver controvérsias.
Nem vou entrar no mérito da discussão acerca da relevância, ou não do futebol nas vidas de cada um. Estou admitindo aqui a certa vitória do rubro-negro nesta tarde como um relevante valor cultural socialmente compartilhado, como um valor realmente positivo para uma catarse coletiva apoteótica capaz de realmente trazer o reino dos céus às existências de cada um.
A questão é que moro a alguns metros (sim, metros e não quilômetros) da Catedral Mundial do Futebol, o Maracanã. Desde as 10 horas da manhã (detalhe, o jogo começa às 17 horas) instalou-se um carro embaixo do meu prédio com um porta-malas que deveria se chamar porta-som. Se ele tivesse exercendo regularmente o seu direito de estacionar, muito bem. Mas não, ele resolveu, com esta antecedência nada exagerada, dar mostras de sua potência sonora. Eu até gosto de música, provavelmente não reclamaria se se optasse por um determinado repertório e uma determinada intensidade de decibéis, mas vocês devem imaginar qual deve ser o repertório e a intensidade dos decibéis. Hino do flamengo, samba do flamengo, funk do flamengo, gritos de gol. Hino do flamengo, samba do flamengo, funk do flamengo, gritos de gol. Hino do flamengo, samba do flamengo, funk do flamengo, gritos de gol. Cansou de ler? Imagina escutar esta estrondosa ladainha há 5 horas. Claro que algum desaforado virá de pronto responder: Se não está satisfeito, por que foi morar perto do Maracanã? Ou a variante: os incomodados que se mudem. A resposta é simples, curta e grossa: Ninguém é obrigado a aturar a falta de educação de ninguém e, estejam certos, se eu pudesse me mudar, me mudaria não de vizinhança, mas de país (e, se bobear, incômodo por incômodo, tenho até motivos para querer mudar de mundo).
Não estou aqui condenando a alegria, a festa, a comemoração por algo (que se quer) tão relevante quanto o futebol. Brinquem, cantem, comemorem, façam o que quiserem, mas respeitando o direito dos outros de não quererem ser incomodados pelos exageros de todo esse ritual.
E meninos, não façam pipi nas calçadas, não exibam seus pintos assim tão desavergonhadamente, há moças, senhoras e senhores, que têm o direito de não quererem ver vocês satisfazendo suas necessidades fisiológicas assim tão primitivamente. A rua é tanto de vocês quanto deles e acho que ninguém gosta do especial aroma que a mesma assume após o despejo de alguns milhares de litros de uréia.