Hoje, o principal sentido do carnaval, que eu consigo vislumbrar, é a idéia de transgressão. Um período em que o que se quer é se libertar de tudo o que possa representar censura e repressão, em que as únicas coisas a serem reprimidas devem ser “a moral e os bons costumes”. Essa expressão, aliás, sempre me vem à cabeça com a imagem de uma senhora sisuda, de nariz em pé, coque bem amarrado, leque e roupas pretas e compridas. É como se ela sempre tivesse acabado de proferí-la.
A transgressão tem um importante papel na evolução social, isso é inegável. Graças a ela novos elementos são inseridos no rol das coisas possíveis de serem realizadas e os debates se aperfeiçoam e se complexificam. Até que uma nova transgressão aconteça e tudo se renove. Pode ser que seja errado em falar de evolução, que, na verdade, tudo seja, em módulo, igual sempre, só mudando de roupa, mas minha intuição diz que não.
Sou adepto das interações entre o sensível e o inteligível. Razão e emoção não são coisas diferentes, muito menos opostas. São aspectos diferentes de algo chamado espírito. Essa essência comum aos humanos, indescritível em palavras e conceitos, que tanta confusão cria entre acadêmicos e religiosos, seja mutuamente, seja entre si. Creio que para se entender certas coisas com a razão, primeiro é preciso sentí-las. A emoção como um impulsionador de conjecturas intelectuais. Só não sei até que ponto a recíproca pode ser verdadeira.
Portanto, dar vazão a sentimentos reprimidos não é algo de todo condenado pela çoçiedade. Se num consultório de psicoterapia ou se na avenida é que está a grande diferença. No primeiro desperta-se menos discordâncias que no segundo, mas o caráter emancipatório de ambos é que se deve examinar. Parece que sempre estamos querendo nos libertar de algo, que estamos sempre presos a coisas que nos tolhem a liberdade e a espontaneidade, e que contra elas devemos voltar nossas armas.
A discussão, antes somente moral, torna-se, então uma discussão também de método. Contra o que devemo nos emancipar? Qual a melhor maneira de fazê-lo?
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
sábado, 14 de fevereiro de 2009
As coisas simples
Já falei aqui da relevância das coisas simples. Às vezes queremos o mundo nas nossas mãos como condição sine qua non para a felicidade. Jogamos o nível de exigência da nossa felicidade para os cumes das montanhas, superestimando coisas supérfluas, sequer minimamente atentos para o essencial. Por isso deixamos de falar aquelas coisas na hora certa. A boa palavra que fará a outra pessoa feliz, a palavra de ordem que mostrará o limite de cada qual. Por isso, damos a impressão ao mundo que somos super-humanos que sabem administrar bem tempo e emoção, sem dar qualquer margem de chance para que pensem que somos vacilantes, inseguros e, muitas vezes, covardes, em ocasiões em que um simples e sincero “me desculpe” seria muito eficiente para evitar qualquer mal entendido e até desentendimentos atrozes que duram anos. Reclamamos tanto da falsidade e complexidade do mundo e, no entanto, nos jogamos avidamente para a ilusão, sem coragem de sermos sinceros, de sermos simples.
Esse é meu comentário sobre o filme “O leitor”, das últimas coisas boas que vi na vida. Kate Winslet se confirmando como das melhores atrizes de todos os tempos. Não percam.
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