segunda-feira, 28 de setembro de 2009

FESTIVAL DO RIO Filme: Che - A Guerrilha


Fui sem assistir a 1ª parte (“O argentino”), o que pretendo fazer em breve. Não por o filme ter me instigado tanto assim, mas para me situar melhor na trama. A história todo mundo já conhece. O que me levou a dar uma conferida no filme foi o Steven Soderberg na direção e Benício Del Toro no papel principal.
O filme não é ruim, mas é cansativo. Digo, prendeu minha atenção, mas talvez ficaria mais emocionalmente envolvido se tivesse visto a primeira parte. Já foi tempo que a figura de Che Guevara me provocava algum arroubo revolucionário, se é que alguma vez o fez. Gostei e simpatizei com o cara de Diários de Motocicleta, muito embora fosse encarnado por um galã tampinha meio canastrão como o Gael García Bernal, mas pelo menos, confesso, tive alguma empatia por ele.
Desta vez Che Guevara me incomodou. Passou a impressão de um sujeito arrogante e pretensioso que tem por convicção que sua visão de mundo é melhor que a de qualquer um. Não só isso, tem tanta gana de enfiar essa visão de mundo goela abaixo dos outros, que é capaz de se aventurar numa odisséia quase quixotesca pelas matas bolivianas (sem mencionar o Congo -!-) ainda carregando consigo um punhado de asseclas que o ouvem como a um guru, sem ousar discordar. Talvez porque soubessem muito bem quais seriam os seus tristes fins se o fizessem.
Essa impressão me contaminou de tal forma que o tom heróico que Soderberg tentou emprestar a Guevara soou romântico e ingênuo em demasia. Del Toro também caiu no lugar comum do mocinho-idealista-que-morre-por-sua-causa e soa ligeiramente afetado, mas tem lá seus méritos. Sua presença é forte, pois ele é daqueles atores que conseguem não só transmitir, mas emanar talento, entretanto, esperava mais. Mal e porquíssimamente comparando, em termos de personagem, interpretar Che Guevara, principalmente para seus admiradores, deve ser tão desafiador quanto interpretar Jesus Cristo, para um ator católico fervoroso. Guardadas as devidas proporções, são tantas as versões e lendas envolvendo cada um, que deve ser difícil localizar aquilo que talvez fosse essencial de suas naturezas, restando-lhes interpretar não a personalidade, mas as versões que historiadores e pensadores têm deles.
Nestes tempos de revival dos ideais de esquerda na América Latina, não sei dizer se as repercussões dessa obra serão positivas ou negativas. Tanto para o que ainda se chama esquerda como para o que ainda se chama direita nesta região, porque tanto pode reforçar o lado caricatural do personagem como, para alguém com maior paciência para com ele, enaltecê-lo, mas fiquei com a impressão de que não será nada relevante, não, como aconteceu com o primeiro filme.

sábado, 26 de setembro de 2009

Minha São Paulo

São Paulo. Velocidade é o seu combustível. Concreto. Grandeza.Cinza. Apoteótica avenida com pirâmides sem Faraós. Faraós com pirâmides paralelepípedas. Antenas arranhado as grossas nuvens negras de chuva, ondas e carbono. Carros. Lentas serpentes luminosas percorrendo largas avenidas sem fim, sem destino. Marginais. Ladeiras. Trânsito. Carrões. Buzinas. Cruzamentos que nunca são fechados. Há cheiro de ambição no ar, de dinheiro, de negócios, de meninos de terno e gravata babando sangue em cantinas italianas rodeadas de putas, travestis e motéis baratos com cara de pensão do interior. Um eldorado pandemônico, desvairado. Um carnaval sisudo, que dança na garoa com um copo de vinho, vestindo um sobretudo, preto e branco em tons arlequinais. Ruas que dão sempre em outras ruas, sem esperança de mar. Ipiranga com São João. Vinte e cinco de março. Centro e periferia.