segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Ilex paraguariensis

Estou insone e todo otimismo do meu dia se esvai a cada carro que passa pela rua lá embaixo. Os carros passam. Vão de algum lugar para algum outro. E eu aqui. Eu tinha o meu dia de amanhã todo planejado como uma dona de casa norte-americana, mas agora só tenho uma vaga noção dele.
É estranho morar de frente pra rua. A minha vida toda, as minhas janelas eram de fundo ou davam para dentro da vila, ou do condomínio. Não é a mesma coisa que uma janela de frente pra rua. Não há microcosmo, não há segurança. Há a realidade pulsando e sambando como uma passista de escola de samba. Há cheiro de sangue fresco. Meninos no frio cheirando cola, garis faxinando os restos da solidão alheia. Passa um carro com um casal de namorados indo para um motel. Avançam o sinal vermelho. É uma coletora, não uma via arterial, por isso os carros não passam rápido.
Os prédios da frente têm poucos insones como eu porque a noite fria é só para os fortes. Aqueles que resistimos é que temos que engolir a gilete da solidão.
“Que noite caia, de repente, caia, tão demente quanto um raio. Que a noite traga alívio imediato”