segunda-feira, 14 de abril de 2008

ciclo

A notícia veio acompanhada de uma arritmia respiratória como se o curso natural das coisas tivesse dado um salto. Daí naqueles momentos de vertigem em que se busca o chão é que me dei conta de que já era manhã e que lá fora ventava. Dia cinza. Algumas palavras ao telefone, informações a mais, detalhes, horas. Ainda andei um pouco pela casa. Queria pouco som. Queria descanso. Queria pensar. Vi o vento nas árvores lá fora e aquilo me deu paz, num dos misteriosos artifícios da natureza. Falei com amigos e saí.
Cemitério vem do grego ‘kemiterus’ (ou algo assim) quer dizer dormitório. “Nós que aqui estamos por vós esperamos” me veio à cabeça. Há muita bugiganga enfeitando buracos no chão onde choramos nossos mortos, nossos libertos. Para quê? Os antigos acreditavam que os mortos viviam em mundos subterrâneos e que eles precisariam de comida e bebida do lado de lá. A física moderna concebe a existência de outras dimensões. O Espiritismo diz que eles estão entre nós. ‘O silêncio da sepultura é pobreza dos sentidos’. Que assim seja pois de qualquer forma o que fica é o que sentimos. As lembranças das risadas, das bagunças, dos choros, das viagens e tantas outras coisas. Só lembrança será com o que temos de nos acostumar quando não podemos mais ver, tocar e abraçar a pessoa que se apagou aqui para continuar lá. Lá para onde iremos também assim que não tivermos mais como sentir tanta saudade, aqui.

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