quinta-feira, 1 de outubro de 2009
FESTIVAL DO RIO Filme: Abraços Partidos
Almodóvar para me distrair. Não é novidade que há algo de muito peculiar na obra dele. No ritmo, nos enquadramentos e, é claro, nas cores (tantas que, como a Adriana Calcanhotto, eu também não sei o nome). Roteiros absurdos que, ditos com naturalidade, numa mesa de café da manhã, conferem alguma estranha verossimilhança àquilo tudo. Personagens carismáticos, mulheres histéricas e irresistíveis, senso de humor que foge da obviedade. Paixão. Lembro do final de “Má educação” em que o filme fecha com uma frase com esta palavra ao final, quase no rodapé, para depois ser jogada na nossa cara, ocupando a tela toda. Ele é o cineasta da ‘passión’.
Por mais que não seja dos seus melhores trabalhos, para mim, é sempre um prazer me deixar levar para o estranho mundo de Pedro Almodóvar. Os meus preferidos são “A flor do meu segredo”, “Carne trêmula”, “Tudo Sobre Minha Mãe” e “Volver”. A este “Abraços Partidos” ("Los abrazos rotos") comecei a dar crédito pelo título forte e pela presença de Penélope Cruz, a quem o cara sabe filmar (lembrem-se da cena da câmera mergulhando em seu decote enquanto, na pia da cozinha, ela lava uma faca suja de sangue, em “Volver”).
Dia de chuva no Rio de Janeiro, uma dor de cotovelo para curar, Festival do Rio, lá fui eu para o cinema com a expectativa habitual para um filme dele (é sempre muito bom o sentimento de expectativa de ver um filme novo de um diretor de quem se gosta, é como a de quem irá ganhar um presente) que, pelo visto, não era só minha. A sessão lotou mesmo sendo quarta-feira à tarde.
Confirmando uma certa tendência recente do diretor em retratar também o universo masculino, esta, basicamente, é a história de um escritor de roteiros de cinema que perdeu a visão e a mulher que amava em um acidente de carro, a partir do qual assumiu a identidade de seu pseudônimo.
Paixão, ciúme, segredos de família, traição, morte, histeria, mistério, cores berrantes (vermelho, muito vermelho, como sempre), vingança, os peitos da Penélope Cruz. Está tudo lá. Com a elegância Almodovariana de sempre, mas faltou um não-sei-o-quê. Tem cenas antológicas e cheias de significados como a em que o protagonista cego abraça uma tela onde se exibia os seus últimos momentos ao lado da mulher amada, instantes antes desta morrer (a dicotomia ausência/presença proporcionada pela morte mais uma vez trabalhada magistralmente pelo diretor), que chegou a me arrancar lágrimas, ou a em que o marido traído assiste às provas da infidelidade da esposa ao lado de uma especialista em leitura labial que faz a dublagem das gravações, que foram feitas sem som, só para escrachar o lado patético (e tragicômico) do ciúme doentio.
Há ainda um revival de suas comédias rasgadas em um “filme dentro do filme” (‘chicas e maletas’ que, confesso, assistiria se fosse real) com um daqueles diálogos inacreditáveis, porém irresistíveis e o tom meio thriller do filme permite ainda que Almodóvar faça algumas brincadeiras com Psicose (isso mesmo!), vide uma cena passada numa escadaria com uma trilha sonora específica.
Ainda assim este “Abraços Partidos” não me maravilhou tanto quanto os outros títulos acima listados. O que não me impediu de aplaudir ao final da sessão (tipo de coisa que só se faz no Festival do Rio).
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Um comentário:
"Dor de Cotovelo é quando o amor é interrompido antes que se esgote. O amor tem que ser vivenciado".
Jabor, Jabor, Jabor...na próxima encarnação eu caso com ele!rsrs.. Nessa não rola, pq ele não daria conta, tá meio acabadinho..hahahahahahahaha
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