Não sei porque tem épocas que a Guarda Municipal é tão intolerante com os ambulantes do Centro do Rio. Noutras, a relação por vezes, é tão indiferente que chega a ser amistosa (tô tentando lembrar aqui se já vi alguma vez um dos guardas consumindo algum produto, uma balinha que seja, de algum ambulante, mas acho que nunca vi). Não estou fazendo aqui defesa incondicional dos ambulantes. Creio que toda pessoa tem direito ao trabalho e estes, pelo menos, não estão optando por expedientes excusos para sua sobrevivência. Somente que não pode, igualmente, o resto da população ser refém desta situação. Ser conivente com o comércio informal como se tais comerciantes estivessem fazendo um favor, existindo, de forma sub-reptícia a ameaça de que, a qualquer momento, o tal comerciante pode desistir da “vida certa” e partir para a “vida errada”. Só para se deixar claro que escolhas são do cabedal moral de cada um. Além de atrapalhar o trânsito das pessoas nas calçadas, a utilização do passeio público para auferir lucros para si depende de cientificação da Prefeitura, salvo engano com pagamento de alguma taxa. Outra questão é o não pagamento de tributos a que todo brasileiro estaria submetido sob pena de inúmeras sanções, caso comerciante não-informal fosse. Não vai aqui um discuso pró-Estado, portanto necessariamente contra o cidadão. Concebo o Estado enquanto uma instituição que deve refletir os anseios da sociedade no que tange à vida em cojunto, portanto, se chegou-se ao nível de compartilhar-se socialmente valores como “o passeio público deve estar livre para o trânsito das pessoas” e “todos devem pagar tributos para que a vida em conjunto possa ser custeada” e tais valores, solidificaram-se em normas, é de bom alvitre cumprí-las. Ao antagonista: sei das mazelas que permeiam o Estado brasileiro, dos destinos equivocados que os governantes dão à excessiva carga tributária que nos é impingida e de como é relativa a noção de que valores compartilhados são necessariamente sabidos e cumpridos por cada um, mas defendo a idéia de que tais fracassos não devem ser desculpas para o non-sense, mas caminhos pedagógicos para que se acerte futuramente, com a evolução social.
Estas são meras reflexões abertas a debate. Não há que se negar que todos temos apreço por algo e desprezo por outro algo e portanto, gostaríamos muito que o objeto do nosso apreço vigorasse e que o objeto do nosso desprezo desaparecesse. Nesse tiroteio de pretensões é que deve subsistir o Direito.
Isso tudo por que teve uma gritaria aqui embaixo. Os guardas municipais vieram zunindo como um enxame de abelhas e as pessoas curiosas e ávidas, como crianças em zoológico. A quizumba durou bem uns 15 minutos. Muitos palavrões, muitas portas de loja se fechando, muita gente em volta parada olhando e eu aqui escrevendo. Sabe-se lá porquê.
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