quinta-feira, 14 de agosto de 2008

eu, eu mesmo e irene

Li, num desses sites de notícias que um psiquiatra tem defendido que o Orkut pode gerar crise de identidade. Acho que ele tem um pouco de razão. O Orkut inovou bastante na maneira de nos relacionarmos. Criamos ali um apanhado de comunidades às quais optamos por participar, convidamos amigos, vasculhamos a vida alheia, enfim, fazemos sem-graçamente sentados à cadeira em frente ao computador o que antes fazíamos pessoalmente. Não, não sou o nem um pouco inovador alarmista que vai dizer que no futuro não sairemos mais de casa, da frente do computador. Não acredito nisso, em definitivo. Sentimos necessidade de nos relacionarmos no bom e velho ao vivo e a cores, de sairmos para vermos o pôr-do-sol, para comemorarmos os nossos aniversários.
O que fiquei pensando (leia-se, viajando) foi, tomando como ponto de partida o termo mídia, como meio, o quanto ainda tomamos a parte pelo todo, a forma pelo conteúdo. Vendo aquelas fotos obrigatoriamente felizes, aquelas pessoas obrigatoriamente sem problemas, não consigo me furtar a um certo estranhamento. De outra maneira, não vai aqui nenhum apelo a um comportamento extremamente oposto. Concordo que seria mórbido demais que todos colocassem no Orkut suas angústias e frustrações. O que me espanta é acreditarmos tanto que somos aquilo ali. Não sou eu quem vai oferecer aqui resposta profunda sobre a essência humana de cada qual, mas das coisas mais divertidas é analisar (mesmo que com uma psicologia de butiquim) o que as pessoas respondem quando o Orkut de maneira soturna e zombeteira, num dado momento nos propõe a pergunta “quem sou eu”. E toma-lhe metamorfoses ambulantes, poesias herméticas, letras de músicas conhecidas ou não. É bem verdade que tem muita gente que não coloca nada, tem gente que é sincero e coloca coisas que nós, que as conhecemos, concordamos e tem outras que colocam várias exclamações, coraçõezinhos e afins.
O Orkut nada mais é do que um meio. Numa viagem mais metafísica, nosso corpo é um meio. Nós não somos os nossos perfis no Orkut assim como não somos o nosso corpo. Tem coisas que somos cá dentro que não cabem em orkuts ou corpos, limitados demais para exteriorizar a natureza de cada um. A gente é que tem que ver se somos parte ou todo.

Nenhum comentário: