quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Rosebud

Souvenir. Lembranças. O título acima é uma ode a Charles Foster Kane, o cidadão Kane, o homem cuja lareira era maior que o meu apartamento. Ele tinha um castelo e era o homem mais poderoso do mundo. O Orson Welles se inspirou num magnata das comunicações para conceber o personagem. Ele morre na torre do seu castelo balbuciando “Rosebud”. Rosebud não era tão poético quanto um botão de rosa. Rosebud fora o brinquedo predileto do menino Kane. Não passava de um pequeno trenó de neve.
Acabei de ver “Piaf – um hino ao amor” e tentei imaginar se o hino “Je ne regrette rien” poderia ser a trilha sonora de Charles Foster Kane. De certo as lembranças eram importantes em ambos os casos. Quanto aos arrependimentos, já não sei. Se a vida de Edith Piaf foi um terço da metade do que foi exibido no filme, a contundência apaixonada de suas interpretações nada mais são do que puro reflexo disso. Já nem sei mais se consigo diferenciar Edith Piaf de suas músicas, se assim o foi. São como os gritos de seus ossos comprometidos pelo reumatismo ou o clamor de seu fígado combalido. Seu canto neste momento, para mim, se torna parte dela e ao mesmo tempo, se há tristezas agudas, há a beleza monumental de uma tela do Picasso (sugere-se a tela “Mulher chorando”, só para ilustrar).
Não se trata de pedir bis se um dia ela despencar do céu, mas da capacidade de nos enternecermos sozinhos com um pôr-do-sol numa praia vazia.

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