terça-feira, 16 de dezembro de 2008

capitu


Quando ela entrou correndo salão a dentro arrastando um pequeno bastão com um gesso à guisa de giz amarrado na ponta, nem precisava a trilha sonora adequada para eu me reapaixonar (muito embora Elephant gun do Beirut só toque na minha cabeça agora acompanhado da imagem dos olhos de cigana oblíquos e dissimulados de Capitu -ou da Letícia, quem vai saber). Na primeira vez que a vi, ela vestia-se num misto de bailarina e colombina. As primeiras palavras que vi sair de sua boca num rompante gritado foram: “É de madeira a porta que bate, o cão que late”. O ribombar da bateria que se seguiu foi mais um reflexo do impacto que senti do que propriamente da música. Hipnose. Ela, então, desfilou ombros, mãos e olhares, dançando diante de mim e eu era menos que um Bentinho de 14 anos e ela era mais que a lagarta listrada do Manuel Bandeira (até mais louca que Antônia). Era meu primeiro show do Manacá.

E ela entrou correndo salão adentro, sorrindo, meio dançando suas saias, brincando, para ser a Capitu do Bentinho, esta entidade cuja beleza deveria ser mais contemplada do que entendida, por que certos enigmas insolúveis hão de servir somente para isso. O Bentinho amargurado e dolorido, creio ser mais criação da minissérie do que da pena de Machado de Assis, pelo que lembro do livro que li há tanto tempo, ou quem sabe da ternura que despertou no diretor toda crueza que o personagem quis insinuar. Acho que Luiz Fernando Carvalho quis dialogar ternamente com o lado casmurro de Bentinho, como um pai ou um irmão, talvez mostrar uma essência que ele gostaria que o casmurro que jantou bem e foi ao teatro após a morte do filho, tivesse, ou então, além ainda, instigá-la. Funcionou comigo. Fui seduzido por aquele mundo ópera,rock,humor e tragédia e não só pela Letícia.

Um comentário:

Anônimo disse...

Também me senti hipnotizado e seduzido quando a capitu adentrava com o seu jeito encantador.
Pra mim, a melhor minisérie feita pela Globo. Letícia ganhou mais um baba-ovo. hahaha