segunda-feira, 22 de junho de 2009

A BORBOLETA AMARELA

O sonho de D. Lena era casar-se na Igreja. Como não tivesse dinheiro para tanto, casou-se em casa mesmo com uma cerimônia simples e vestido branco bordado à mão, mas na promessa de que na comemoração de 25 anos de casada, entraria em uma Igreja com Felippe, seu jovem marido. Aos 25 anos de casada e com 12 filhos para criar, não pôde, mais uma vez, realizar seu sonho.
Época difícil, o filho mais velho foi convocado à Guerra. Em poucos meses, foi tirado de casa e mandado para Itália e suas cartas demoravam um mês para chegar. Angústia. Semanalmente pedia a um dos meninos que escrevesse para ela uma carta ao irmão, mas as respostas demoravam tanto a chegar...
À hora do carteiro, D. Lena se postava ao portão aguardando que o mesmo viesse ao seu encontro. O fazia mais por teimosia e por preocupação maternal por que sabia mesmo que as cartas de seu filho amado eram sempre anunciadas por alegre e brejeiro personagem: uma borboleta amarela voejando pelo quintal. As filhas se riam quando viam a mãe feliz por causa de uma borboleta amarela, mas, com o tempo, puderam constatar a inusitada coincidência. A borboleta amarela trazia boas notícias.
O filho retornou da Itália são e salvo, ela deu grande festa, ainda que modesta. D. Lena não chegou a completar 50 anos de casada. Quis Deus recolhê-la para perto de si antes. Mas suas filhas não esqueceram a data e em homenagem a ela, amigo da família mandou 12 rosas. Cada uma simbolizando um dos filhos.
À noitinha, quando só restou a terceira filha, dona da casa onde ocorreu a celebração, janela aberta, uma borboleta amarela adentra pela sala e, sobre a mesa, brinca por sobre as 12 rosas como que beijando cada uma delas.
D. Lena é minha bisavó. O primogênito enviado à guerra é meu avô.
Hoje é meu aniversário. Tão importante quanto avançar pelo tempo é nutrir-se pela própria raiz. Por esses 26 anos de existência um muito obrigado a Deus pela família que tenho e, a cada um de seus inumeráveis membros, um muito obrigado por tornarem este período tão especial.

4 comentários:

Luciana disse...

Fiquei arrepiada... Li a historinha esperando encontrar ao final o livro e o autor! rs

Olha, não tinha jeito... Uma pessoa tão especial qto vc só podia vir mesmo de uma família muito especial.

Não poderemos te dar um abração hj, mas desejamos tudo de melhor sempre em sua vida. Vc e Fafa são nossos melhores amigos e essa amizade tem uma importância imensa para nós. Estamos sempre torcendo por vcs!

Um beijão e um ótimo dia de niver para vc!

; daniel disse...

Vejo que o jantar em família te deu inspiração.
Que você tenha muito mais anos de vida pra compartilhar as coisas boas que tu tens dentro de ti.
Obrigado por ser meu amigo!

Eleanor Rigby disse...

Gabriel... Qdo comecei a ler pensei em tantas coisas, se era real, se era sua autoria, se era crônica, se era de alguma famosidade, se era mediunidade! Estou muito emocionada... Pensei também em Cem anos de solidão, do García Marquez. Lembrou-me muito.

Alline disse...

Adorei!! Espero que não soe como ofensa, pois não é a intenção, mas parece que foi escrito por uma mulher. Lembro de quando vc disse que achava que tinha um quê de Clarice ao escrever, mas vejo que não é bem isso. Parece que a sensibilidade é externada a cada letra que segue na tela.
Enfim... gostei=).

Bjocas