Volta e meia me pego querendo entender as pessoas. As coisas se me escapam com igual fugacidade. Nada é feito só para entender, reflito, mas para ser olhado em perspectiva. Muitas questões estão em jogo e o simples entendimento é cego para muitas delas. É preciso sentir. Mais imperioso que qualquer tratado sobre tudo ou sobre porra nenhuma. É imperioso sentir. Sentir muito. Sentir muitíssimo porque qualquer automatismo, qualquer coisa que nos tire vida, nos tire autonomia, é contra a nossa natureza traidora, sempre errante, sempre nômade em seu descontentamento transcendental.
Se tento aprisionar um sinal fechado, um olhar cansado, um gesto de gentileza, todos se esvaem em grãos miúdos pelo buraco fino da ampulheta, mas, por algum desses mistérios insondáveis da vida, continuam a circular aqui dentro. E eu mastigo todos eles. Deles me alimento. Regurgito. Cuspo um pouco. (Por que sentir muitíssimo também pode fazer mal aos estômagos frágeis). E eu me nutro desses ecos de impermanência como um adicto em heroína. E como em qualquer vício, a delícia tem prazo de validade. Uma crise de abstinência se me impõe para que saia tudo de suspensão e eu passe para a próxima fase. Mais rico, mais múltiplo, mais alto.
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