domingo, 23 de março de 2008

filme: Chega de Saudade.


Filmes que me inspiram. Filmes que me façam identificar em cada personagem um pedaço de mim, na tão misteriosa universalidade que nos une através dessa coisa chamada empatia. Essa foi a grata surpresa da tarde de hoje: o filme “Chega de Saudade”. E eu que nem estava com vontade de ir ao cinema, acabei indo a um baile. Não um baile funk ou um baile de formatura, mas um baile desses onde se dança dança de salão onde o ambiente e a trilha sonora são melancólicos e celebram a vida, ao mesmo tempo. Onde há pessoas que vivem no limite entre a realidade e a ilusão. Onde há pessoas que se desnudam, mas que não dispensam o uso de máscaras quando convém, ou não. Tudo muito cotidiano, tudo muito excepcional. Dessas coisas que são verdadeiras, mas podem ser constrangedoras, que são passionais, mas podem ser bregas. A Laís Bodanzky soube usar bem close, foco, diálogos que sobrepunham músicas, conversas perdidas no salão (comentários maldosos, falas à toa, versos cantados ao pé do ouvido), exatamente como eu gostaria que fosse feito, com eu faria, se fosse o diretor. Gosto desses filmes que posso pegar emprestado. A cena em que Marquinos pergunta se Bel recebeu alguma coisa de alguém no salão e o diálogo entre eles. A cena em que Álvaro encontra com a ex-mulher morta e o diálogo entre eles. A cena em que Eudes recita “Carinhoso” nos ouvidos de Bel, e Marici chora escondida, de ciúmes. A cena em que Rita se masturba no banheiro. A cena em que Elza beija o dançarino à força e o joga fora com lágrima nos olhos. A cena em que Álvaro pede que o garçom não deixe que dona Alice perceba que se esquecera de buscar-lhe o remédio. E as inúmeras cenas de olhares do Paulo Vilhena, como Marquinhos; da Maria Flor, como Bel; de Leonardo Villar como Álvaro; de Stepan Nercessian, como Eudes; de Cássia Kiss e suas indefectíveis rugas, como Marici; de Clarice Abujamra, como Rita; de Betty Faria, como Elza e de Tônia Carrero, como Dona Alice. Tudo pela fotografia do Walter Carvalho. Tudo em uma só noite de baile e cada um com sua trilha sonora com a voz, a alma e as costas musculosas da Elza Soares, como a crooner Ana, da banda Lua de Prata. Como um grande vídeo-clipe de música brega. Como a vida da gente.

Nenhum comentário: