
Filmes que me inspiram. Filmes que me façam identificar em cada personagem um pedaço de mim, na tão misteriosa universalidade que nos une através dessa coisa chamada empatia. Essa foi a grata surpresa da tarde de hoje: o filme “Chega de Saudade”. E eu que nem estava com vontade de ir ao cinema, acabei indo a um baile. Não um baile funk ou um baile de formatura, mas um baile desses onde se dança dança de salão onde o ambiente e a trilha sonora são melancólicos e celebram a vida, ao mesmo tempo. Onde há pessoas que vivem no limite entre a realidade e a ilusão. Onde há pessoas que se desnudam, mas que não dispensam o uso de máscaras quando convém, ou não. Tudo muito cotidiano, tudo muito excepcional. Dessas coisas que são verdadeiras, mas podem ser constrangedoras, que são passionais, mas podem ser bregas. A Laís Bodanzky soube usar bem close, foco, diálogos que sobrepunham músicas, conversas perdidas no salão (comentários maldosos, falas à toa, versos cantados ao pé do ouvido), exatamente como eu gostaria que fosse feito, com eu faria, se fosse o diretor. Gosto desses filmes que posso pegar emprestado. A cena em que Marquinos pergunta se Bel recebeu alguma coisa de alguém no salão e o diálogo entre eles. A cena em que Álvaro encontra com a ex-mulher morta e o diálogo entre eles. A cena em que Eudes recita “Carinhoso” nos ouvidos de Bel, e Marici chora escondida, de ciúmes. A cena em que Rita se masturba no banheiro. A cena em que Elza beija o dançarino à força e o joga fora com lágrima nos olhos. A cena em que Álvaro pede que o garçom não deixe que dona Alice perceba que se esquecera de buscar-lhe o remédio. E as inúmeras cenas de olhares do Paulo Vilhena, como Marquinhos; da Maria Flor, como Bel; de Leonardo Villar como Álvaro; de Stepan Nercessian, como Eudes; de Cássia Kiss e suas indefectíveis rugas, como Marici; de Clarice Abujamra, como Rita; de Betty Faria, como Elza e de Tônia Carrero, como Dona Alice. Tudo pela fotografia do Walter Carvalho. Tudo em uma só noite de baile e cada um com sua trilha sonora com a voz, a alma e as costas musculosas da Elza Soares, como a crooner Ana, da banda Lua de Prata. Como um grande vídeo-clipe de música brega. Como a vida da gente.
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